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Teofrasto

Estudioso grego, botânico e discípulo de Aristóteles (N. Eresos, Lesbos, 373-370 (?) a.C. – 285 a.C.).

Teofrasto

Vida

Teofrasto nasceu entre 370 e 373 a.C. em Eresos, na ilha grega de Lesbos, flho de um pisoeiro, cujo trabalho estava intimamente ligado ao comércio, agricultura e à química primitiva das bases utilizadas na limpeza das lãs. De acordo com Diogenes Laertius, biógrafo de inúmeros filósofos gregos, terá estudado na Academia de Platão, onde se pensa ter encontrado Aristóteles, que apesar da diferença de idades se tornou seu amigo íntimo e colaborador. O percurso nos anos seguintes é, no entanto, incerto. Algumas fontes apontam para a possibilidade de Teofrasto ter acompanhado Aristóteles na sua viagem à Ásia Menor em 347 a.C., depois da morte de Platão. Poderá ter também estado na Macedónia, desde o ano 341 a.C. até a 335 a.C., altura em que terá retornado a Atenas com Aristóteles, quando este fundou aquela que ficaria conhecida como Escola Peripatética. A relação estreita entre as duas figuras fez com que Aristóteles o nomeasse seu sucessor no cargo de director, que ele veio a assumir em 323 a.C., quando Aristóteles regressou à sua terra natal para morrer. Seguiram-se cerca de 35 anos como director, em que acompanhou mais de 2000 alunos até ao ano do seu próprio falecimento, em 285 a.C. Curiosamente, tanto Aristósteles como Teofrasto, imigrantes em Atenas, nunca chegaram a ser considerados plenos cidadãos. Contudo, Teofrasto era de tal forma considerado pelos Atenienses que uma tentativa de o julgar por desrespeito religioso falhou e uma lei restritiva contra ele e outros filósofos foi também repelida.

Obra

Teofrasto seguiu, em traços gerais, as ideias de Aristóteles, sua maior influência, sendo um estudioso que se ocupou das mais variadas ciências e publicando cerca de 200 obras sobre temas tão variados como Botânica, Política, Filosofia, História, Literatura e Direito. Contudo, algumas divergências surgem entre Aristóteles e Teofrasto, sendo que o primeiro se dedicou especialmente à Biologia, enquanto o segundo preferiu a botânica, ainda que tenha escrito seis obras referentes a animais (alguns dos seus trabalhos sobre comportamento animal foram, presumivelmente, perdidos). A influência do pai, que trabalhava de perto com a lã e seu processamento terá moldado a visão de Teofrasto em direcção à aplicação prática das ciências, o que se nota, aliás, nas suas extensas descrições obre extracção de resina, queima de combustível e arborização, para os quais recolheu testemunhos de carpinteiros e agricultores. Ao mesmo tempo, as suas investigações ultrapassaram esta escala prática. A obra botânica de Teofrasto chegou até aos dias de hoje sob a forma de duas publicações, Historia plantarum (9 livros) e De causis plantarum (6 livros), em que juntou as suas observações às dos seus discípulos, recorrendo ainda a documentos babilónicos e egípcios. Algumas fontes apontam ainda para a possibilidade, ainda que remota, de ter colaboradores entre os homens que acompanharam Alexandre nas suas conquistas. Teofrasto apresenta-se assim como uma figura que rejeita as ideias fixas e autoritárias: ele próprio se prontifica a corrigir e modificar os seus textos perante as críticas dos alunos, sendo provavelmente esta a causa de algumas incongruências nas suas ideias. Nas duas obras abordou a morfologia, a classificação, os problemas de crescimento e reprodução das plantas e ainda a sua aplicação económica. Aliás, esta última vertente era de especial interesse para os seus estudantes, futuros administradores do novo regime Helenístico. Em Historia plantarum abordou, concretamente, a morfologia das plantas e suas inter-relações, estudando também as possíveis co-relações com partes animais. Aqui surge uma divergência em relação a Aristóteles: Teofrasto rejeita qualquer correspondência total entre partes animais e botânicas, uma vez que as plantas têm crescimento indeterminado. Outra divergência nas ideias dos dois filósofos consiste na definição de essência das plantas. Aristóteles defendia que um ser vivo é a sua substância ou essência, que é mais que as suas partes constituintes, enquanto o seu discípulo afirmava que a essência das plantas é constituída pelas partes das plantas que unidas, formam um todo. A divisão em classes realizada por Teofrasto, ainda que de origem popular, foi de extrema importância quando associada à sua descrição bem mais complexa dos caracteres das plantas – ainda hoje utilizados – como os eixos de simetria, a organização dos órgãos sexuais, a unidade das pétalas, etc. Estas formas de classificação remanesceram durante séculos, sendo depois adaptadas e melhoradas por Lineu, que o considerou, aliás, o Pai da Botânica. Sugeriu ainda a hipótese de os efeitos medicinais das plantas nos seres humanos serem medidas reais do “frio” e do “calor”, conceitos de Menestor que desenvolveu. Abordou ainda os campos de farmacognosia, botânica aplicada e patologia, tendo indicado os métodos de combate das doenças das plantas, distinguindo entre as que eram devidas ao clima ou condições de solo e as que resultavam das pestes. Dedicou uma obra aos efeitos medicinais da plantas, Livro IX: suco de plantas e ervas medicinais. Nesta matéria, baseou-se nos trabalhos de Diocleos de Karystos sobre raízes e venenos e em documentos egípcios. Observou ainda que a água é um constituinte de todas as partes das plantas, incluindo as sementes secas. Para além da Botânica ficou conhecido pelos trabalhos em Mineralogia, lançando as suas fundações com a obra Pedras. As suas obras principais incluem ainda Caracteres Éticos e Opiniões dos Físicos. Teofrasto foi ainda importante pela capacidade que demonstrou de não se ligar irremediavelmente a uma convicção fixa, que por consequência poderia estar errada. Por exemplo, apesar de aceitar em traços gerais a convicção algo religiosa de que tudo acontece na Natureza por um propósito, deixa a questão em aberto: Para que servem os refluxos e incursões do mar ou, por exemplo, os mamilos nos machos? De igual forma, apesar de mencionar a geração espontânea como possível explicação de determinados fenómenos, apresenta ao mesmo tempo explicações que levam no sentido contrário, deixando a questão por resolver.


Aristóteles e Teofrasto

Apesar de algumas divergências ideais, na realidade Aristóteles e Teofrasto partilharam as mesmas ideias gerais, como a visão de que as plantas são seres vivos com vida dependente da sua proporção de calor e humidade internos e da sua relação harmoniosa com o ambiente. Aristóteles confiou-lhe, no seu testamento, não só a directoria do Liceu, mas também a sua biblioteca e trabalhos, para além da guarda (parcial) dos seus filhos.



--Susananunes 21h28min de 28 de Maio de 2009 (UTC)

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