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Costa simões

António Augusto da Costa Simões

António Augusto da Costa Simões (1819-1903) é considerado o maior impulsionador do método experimental em Portugal. Ficou conhecido pelas suas qualidades de reformador e progressista em quase todas as áreas em que trabalhou.Foi professor e, mais tarde, reitor na Universidade de Coimbra embora desempenhasse outros cargos ao mesmo tempo: clínico municipal, membro da Câmara dos Pares do Reino, presidente da Câmara Municipal de Coimbra, entre outros.

Vida

Costa Simões - Mundo Fascinante da Medicina

Costa Simões (Mundo Fascinante da Medicina)

Costa Simões nasceu no dia 23 de Agosto de 1819 na vila da Mealhada, situada um pouco a norte da cidade de Coimbra. Matriculou-se nas Faculdades de Filosofia e Matemática em 1835 para frequentar o curso preparatório para Medicina, da Universidade de Coimbra. Iniciou esse curso em 1838 e terminou-o em 1843. Durante todo o curso revelou-se um aluno brilhante, chegando mesmo a ganhar um dos prémios grandes da Academia no 3º ano. Depois de terminar o curso, tornou-se clínico municipal pelo Partido Médico das Cinco Vilas e no de Figueiró dos Vinhos, onde se manteve ininterruptamente entre Agosto de 1843 e Setembro de 1847. Foi nesse ano que regressou à Universidade de Coimbra para fazer o Doutoramento, que concluiria no dia 16 de Julho de 1848.

Em 1852, Costa Simões tornou-se professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, na qualidade de substituto. Assim que o fez, começou a dedicar-se a estudos de Histologia e Fisiologia e criou um laboratório com propósitos pedagógicos, prosseguindo, deste modo, o trabalho anteriormente desenvolvido por J. J. Mello. Entretanto, Costa Simões chegou a ser eleito para a Câmara dos Pares do Reino pelo Colégio Científico, foi presidente da Câmara de Coimbra no ano de 1854 e no biénio 1856-1857. Durante o seu mandato, foi responsável por importantes progressos locais e reformas económicas. Temos como exemplos a criação dos Cemitérios e o primeiro projecto de abastecimento e canalização de água da cidade. Fundou a Sociedade Literária de Coimbra. No dia 7 de Dezembro de 1852 foi escolhido para o cargo de Físico-Mor do Estado da Índia, mas recusou alegando motivos pessoais. Ao mesmo tempo, continuava a exercer funções como clínico.

Em 1857, no dia 23 de Março tornou-se Sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa. Nove anos mais tarde, a 1 de Fevereiro, seria nomeado Sócio Correspondente dessa mesma Academia.

No dia 1 de Julho de 1860 tornou-se Sócio Honorário do Recreio Literário Português do Rio de Janeiro.

Dois anos mais tarde, no dia 28 de Junho, tornou-se Sócio da Academia Real de Medicina de Turim.

Em 1866 recebeu a Comenda da Ordem de Santiago, contudo, pediu permissão para recusar.

Foi ainda Sócio Correspondente da Sociedade de Antropologia Espanhola de Madrid, Sócio Honorário do Instituto Pernambucano, Presidente Honorário da Sociedade União Médica do Porto, membro benemérito da Sociedade Farmacêutica Lusitana e Comendador da Ordem da Rosa, do Brasil.

Costa Simões reformou-se no ano de 1888 e morreu em 1903, no dia 26 de Novembro, na sua casa na Mealhada.

Obra

Imagem1

Costa Simões (www.institutodecoimbra.blogspot.com)

Instituto de Coimbra

Foi um dos fundadores do Instituto de Coimbra, criado em 1852, e seu sócio efectivo. Entre 1855 e 1858 foi secretário e director entre 1860 e 1862 da 2ª Classe e membro da Secção de Arqueologia. Tomou posse como presidente do Instituto no dia 6 de Novembro de 1867 e assim permaneceu até 1872. No dia 8 de Fevereiro de 1879 foi eleito sócio honorário.

Actividade Académica

Em 1860, Costa Simões foi promovido a professor catedrático na Universidade de Coimbra, ficando encarregue da cadeira de Anatomia. Quatro anos mais tarde, troca-a pela cadeira de Histologia e Fisiologia Geral, criada por carta de lei de 1863. Durante estes anos todos, nunca abandonou a investigação experimental no ramo da Fisiologia.

Um dos temas sobre o qual se debruçou foi a teoria da glicogenia hepática, descoberta poucos anos antes pelo prestigiado fisiologista Claude Bernard. Este descobrira que, os animais podem sintetizar açúcar – tal capacidade não é exclusiva das plantas, como antes se pensava – na medida em que o fígado consegue sintetizar glicogénio. No laboratório de Coimbra, Costa Simões confirmou as teorias de Bernard e descobriu ainda que a síntese de glicogénio pelo fígado mantém-se até uma semana após a morte do indivíduo – contrariando a teoria de Bernard, que defendia que a capacidade glicogénica do fígado apenas sobrevivia por apenas mais 24 horas após o falecimento. Estas experiências foram descritas em 1859 e 1860 em artigos assinados por Costa Simões e pelo seu discípulo Victorino da Motta.

O investigador debruçou-se ainda sobre as propriedades do curare, um veneno que fora introduzido por Claude Bernard na experimentação fisiológica. Costa Simões tentou obter o veneno na Europa, sem sucesso. Recorreu portanto a inúmeros contactos, desde o Ministro dos Negócios Estrangeiros aos cônsules portugueses na América do Sul, esperando que lhe conseguissem arranjar o já referido veneno. Por fim, o Dr. José Mendes Norton, de Viana do Castelo, conseguiu pedir a um familiar que regressava da América que lhe arranjasse o curare.

Em 1865, Costa Simões embarcou numa viagem pelas principais cidades europeias onde se estudava a Histologia e a Fisiologia experimental (exemplos: Paris, Bruxelas, Amesterdão, Berlim, Munique). Frequentou cursos em França e na Alemanha, incluindo as aulas práticas do Colégio de França, em que não se limitou a assistir passivamente, como participou nas actividades experimentais realizadas e as criticou. Conheceu variados fisiologistas, em cujo trabalho assenta a Fisiologia moderna (exemplos: Marey, Claude Bernard, Longet, Chauveau). Deste modo, ao longo desta viagem, Costa Simões actualizou os seus conhecimentos práticos de Fisiologia e adquiriu instrumentos variados, dos mais recentes e sofisticados da altura, para enriquecer o laboratório de Fisiologia da Universidade de Coimbra. Este acabou por se tornar um dos melhores da época, mesmo a nível europeu.

De resto, o entusiasmo inesgotável e a “teimosia insuportável” de Costa Simões contribuíram para elevar o ensino prático das cadeiras pelas quais era responsável a um nível digno de causar inveja a outras escolas nacionais e estrangeiras. Isto, mais o laboratório por ele criado que ultrapassava em qualidade laboratórios de Paris e Berlim, colocaram Portugal na frente da investigação da Histologia e da Fisiologia na Europa.

Após a sua nomeação para administrador dos Hospitais da Universidade de Coimbra, no ano de 1870, as suas investigações no ramo da Histologia e Fisiologia foram relegadas para segundo plano, embora nunca as abandonasse por completo. Em 1878, embarcou numa nova viagem pelo continente europeu, passando em cidades como, por exemplo, Madrid, Barcelona, Génova, Genebra, Roma, Paris e Londres. O investigador encontrava-se de tal maneira ligado à Faculdade e ao seu laboratório que, mesmo depois da sua aposentação, no ano de 1882, ainda estudava os instrumentos e instruía acerca da maneira correcta de os utilizar.

Influência de Costa Simões no ensino da Farmácia

Durante o período em que foi director da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, Costa Simões apresentou um projecto que visava a adopção para a reforma da farmácia as medidas aprovadas pela Sociedade Farmacêutica Lusitana, de que era membro benemérito,em 1866, visando a criação de Escolas Especiais de Farmácia com cursos teóricos e práticos e defendendo a existência de uma única classe de farmacêuticos, opondo-se, deste modo, à existência de farmacêuticos de primeira e segunda classe. De acordo com estas medidas, a única classe de farmacêuticos existente seria os que haviam frequentado as Escolas Especiais acima referidas.

Segundo Costa Simões, o ensino da Farmácia deveria compreender as seguintes áreas teóricas: física, química orgânica, química inorgânica, botânica e farmácia. A componente prática do curso consistiria no exercício no laboratório da Escola. Na Oração de Sapiência, para além de repetir e reforçar o que já defendera em 1866, o investigador afirmou que, segundo ele, e inexistência de instituições de ensino apropriadas para a formação de farmacêuticos na Universidade e no país, em geral, constituía uma “excepção vergonhosa, única e aparte de tudo o que eu conheço das diferentes Universidades da Europa”.

Química Forense

Costa Simões também se destacou em outras áreas científicas para além da Histologia e da Fisiologia. Dedicou-se também à análise química, tendo analisado a água dos Banhos do Luso e tido um papel importante no projecto de abastecimento de águas de Coimbra.

Costa Simões escreveu vários artigos intitulados Chimica Legal que foram publicados no quarto volume do jornal O Instituto, lançados no ano de 1855. Nestes artigos, o investigador descreveu as análises que efectuou no Laboratório Chimico da Faculdade de Filosofia com vista à detecção de venenos em amostras provenientes de diversas localidades. Num dos casos mencionados, pode ler-se:

Desgostou-se o doente com o sabor da primeira dose; e a sua mulher, para o resolver a continuar, tomou também algumas colheres do medicamento; e ambos morreram nessa noute, com symptomas de envenenamento.

Costa Simões foi capaz de detectar a presença de arsénico na amostra do xarope de amoras e oximel – um remédio caseiro com o objectivo de aliviar os sintomas de angina – recorrento do teste de Marsh. A quantidade de arsénico detectada era suficiente para produzir a morte por envenenamento a dois adultos através de ingestão de apenas duas colheres do medicamento.

O caso descrito é apenas um exemplo de um dos trabalhos de Costa Simões. O investigador também analisou outros venenos e publicou as descrições de tais análises no jornal. Outros importantes trabalhos consistiam no isolamento de alcalóides recorrendo ao método de Stas. A descrição pormenorizada que Costa Simões efectuou destes trabalhos revela o seu conhecimento actualizado das recentes descobertas no ramo da toxicologia.

Com estes artigos, Costa Simões foi capaz de provar que muitas das análises toxicológicas não precisavam de muitos instrumentos ou reagentes e que os métodos eram suficientemente simples para serem efectuados fora de laboratórios químicos. Uma vez reconhecido o veneno, era possível efectuar, no próprio local, alguns testes “por meios tão simples que os pode fornecer qualquer botica d’aldea”.

O trabalho de Costa Simões no ramo da ciência forense seria continuado por José Ferreira de Macedo Pinto, amigo e discípulo do investigador.


Principais Publicações

Costa simões 17

Folha de Rosto da obra Relatorios de uma viagem scientifica

Costa simões 16

Folha de Rosto da obra O ensino pratico na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

  • Topographia medica das cinco villas e Arega ou dos concelhos de Chão de Couce e Maçãs de D. Maria em 1848, ano desconhecido
  • Noticia dos banhos de Luso: apontamentos sobre a historia, melhoramentos, e administração d'estes banhos, 1859
  • Elementos de physiologia humana com a histologia correspondente, 1861
  • Relatorios de uma viagem scientifica, 1866
  • Hospitaes da Universidade de Coimbra: projecto de reconstrucção do hospital do Collegio das Artes, 1869
  • Projecto de regulamentos dos Hospitaes da Universidade de Coimbra, 1873
  • O ensino pratico na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, 1880
  • Regulamentos internos dos Hospitaes da Universidade de Coimbra, 1882
  • Regulamentos internos dos Hospitaes da Universidade de Coimbra: e annotações respectivas, 1882
  • Notícia histórica dos hospitais da Universidade de Coimbra, 1882
  • Dietas e rações com applicação aos Hospitaes da Universidade de Coimbra, 1882
  • O Hospital de Santo Antonio da Misericordia do Porto; relatório, 1883
  • A refutação de um voto em separado do Sr. Dr. Lourenço d’Almeida Azevedo, 1884
  • A justa defeza de uma aggressão injusta, 1884
  • A grande penuria dos hospitaes da Universidade de Coimbra, 1884
  • O registrador Chauveau do laboratorio de physiologia experimental em Coimbra, 1885
  • Gravidez extra-uterina de quarenta e tres annos : historia e apreciação, 1885
  • As prepotencias de Coimbra no conflicto da carne d’Aveiro, 1885
  • As obras dos hospitaes da Universidade de Coimbra, 1885
  • A minha administração dos Hospitaes da Universidade : uma gerencia de 15 annos, sob a reforma de 1870, 1888
  • Esgotos nas cidades e hospitaes : resumida apreciação dos principaes systemas com applicação aos Hospitaes da Universidade de Coimbra, 1889
  • Abastecimento d’aguas em Coimbra : resumida historia d’este melhoramento com applicação aos Hospitaes da Universidade, 1889
  • Construcções hospitalares : noções geraes e projectos : com referencia aos Hospitaes da Universidade, 1890
  • Projecto do Hospital da Real Confraria do Bom Jesus de Matosinhos, 1894
  • O novo hospital da Universidade : projecto em esboço, 1895
  • Reconstrucções e novas construcções dos Hospitaes da Universidade de Coimbra, 1896
  • Hospitaes extrangeiros de construcção moderna : allemães, belgas, suíssos, italianos e hespanhoes, 1901
  • Hospitaes extrangeiros de construcção moderna : francezes e hungaros, 1902

Bibliografia

Livros

  • PITA, J. R. (Dezembro de 1996). Farmácia, Medicina e Saúde Pública em Portugal (1772-1836), Coimbra, Livraria Minerva Editora, pp. 487-488, ISBN 972-8318-06-5
  • MORENO, A. (1997). O Mundo Fascinante da Medicina", Lisboa, pp.97-98

Artigos

  • ATHIAS, M. (1940). Introdução do método experimental e suas principais aplicações às ciências médicas e biológicas em Portugal, Congresso do mundo português

Sítios na Internet

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